Obesidade

Obesidade

A obesidade cada vez mais se torna uma doença universal de prevalência crescente e que vem adquirindo proporções epidêmicas alarmantes, sendo um dos principais problemas de saúde pública da sociedade moderna. Conforme o método de mensuração e a amostragem escolhida para avaliar a importância da obesidade em uma determinada população, sua incidência pode variar de 20 a 80% da população.

Definição de Obesidade

A obesidade é o excesso de gordura ou de tecido adiposo em relação aos outros constituintes do organismo. Há algumas variações sobre o valor básico a partir do qual um indivíduo é considerado obeso, uma das definições mais aceitas situa como obesidade valores iguais ou superiores a 32% de gordura corporal para mulheres e 25% para homens.

Causas da Obesidade

Observa-se que é reduzido o número de casos de obesidade por causas fisiológicas ou de origem hormonal, e pesquisas recentes confirmam que há um componente genético importante na etiologia da obesidade, entretanto, é possível ser obeso basicamente em virtude do estilo de vida, na ausência de uma história familiar (genética de obesidade).
A maioria das obesidades deriva de causas comportamentais, gerando um desequilíbrio calórico devido por exemplo da falta de atividade física, distúrbios no comportamento alimentar e desequilíbrio psicológico.

A inatividade física é uma causa importante de obesidade, podendo ser, de fato, um fator muito mais importante no desenvolvimento da obesidade do que a alimentação exagerada. A ingestão de calorias não basta para explicar o excedente de peso, uma vez que geralmente ela é idêntica entre as pessoas obesas ou gordas e os indivíduos de peso normal, percebendo-se assim que os obesos são mais freqüentemente pouco ativos do que hiper consumidores.

Tipos de Obesidade

A gordura em excesso pode estar mais concentrada na região abdominal ou no tronco, o que define obesidade tipo andróide, superior ou em maçã, mais freqüente, mas não exclusiva no sexo masculino, ou pode estar mais concentrada na região dos quadris, nas nádegas e nas coxas, o que define obesidade tipo genóide, inferior ou em pêra, mais freqüente, mas não exclusiva do sexo feminino. A obesidade andróide apresenta maior correlação com complicações cardiovasculares e metabólicas que a obesidade ginóide, que apresenta como doenças mais associadas, complicações vasculares periféricas e problemas ortopédicos e estéticos.

Problemas de Saúde Associados ao Peso Excessivo e a Obesidade

A obesidade esta relacionada a um aumento no risco de inúmeras doenças crônicas, como a hipertensão arterial. Quando pacientes hipertensos são comparados a indivíduos normotensos, uma das maiores diferenças encontradas tem sido um aumento de prevalência de obesidade.
Estudos observaram que para cada quilograma de peso ganho a pressão arterial sistólica eleva-se em média 1 mmHg. Por outro lado, a redução de peso, mesmo quando modesta, traz benefícios ao paciente hipertenso podendo, muitas vezes, reduzir ou até mesmo suspender a medicação anti-hipertensiva.

Doenças do coração são comuns no obeso, principalmente quando a hipertensão arterial e a obesidade ocorrem associadas, grande sobrecarga é imposta ao coração. A hipertensão provoca aumentos na resistência venosa periférica, obrigando a um maior trabalho cardíaco para vencer essa resistência, enquanto a obesidade contribui para um aumento no volume sangüíneo, obrigando o coração a um trabalho de bombeamento maior para suprir o tecido adiposo. Os adipócitos, onde a gordura é armazenada, são metabolicamente muito ativos e requerem um rico suprimento sangüíneo, como resultado, o coração, em particular o ventrículo esquerdo, usualmente aumenta sua massa em uma primeira fase e pode vir a tornar-se insuficiente posteriormente.
A hipertrofia ventricular esquerda constitui fator de risco importante para doença cardíaca e ocorre com maior freqüência no paciente obeso e hipertenso que no paciente não-obeso

A obesidade que apresenta principalmente excesso de adiposidade no abdômen aumenta o risco de diabetes do tipo II (não insulino-dependente), por induzir maior resistência à insulina, componente importante nesse tipo de alteração do metabolismo glicídico.
A redução de peso nos indivíduos obesos, reduz o risco de desenvolvimento de diabetes, principalmente por diminuir a resistência à insulina e provocar melhora evidente do controle glicêmico em pacientes com a doença já estabelecida.

Outros Problemas

Aumento do colesterol total, de triglicerídeos, de colesterol LDL e redução do colesterol HDL.

Obesos apresentam prejuízos da função pulmonar, com redução dos volumes pulmonares, e também se observa um aumento do nível de dióxido de carbono no sangue e aumento da produção de eritrócitos (policitemia), em resposta a menor oxigenação do sangue arterial. Além disso, obesidade pode levar ao desenvolvimento de síndrome da apnéia do sono.

Estudos populacionais mostram aumento do risco de neoplasia relacionado à obesidade, particularmente neoplasia de mama, de endométrio, de vesícula biliar e neoplasia de próstata.

Mulheres obesas têm chance maior de apresentar infertilidade, doença hipertensiva durante a gestação e diabetes gestacional, entre outras complicações na gravidez. Mulheres que se encontram obesas durante a gestação têm maior probabilidade que seus filhos apresentem obesidade durante a infância e idade adulta.

Os riscos cirúrgicos são maiores para os obesos, tanto no decorrer da cirurgia como da anestesia. O obeso está mais sujeito a ferimentos corporais por acidentes, devido à redução de suas capacidades físicas e da velocidade de seus movimentos.

Outras doenças são muito comuns no obeso, como doenças articulares degenerativas e distúrbios psicológicos, transtornos alimentares como distúrbio do comer compulsivo e em alguns casos bulimia nervosa. A obesidade também tem efeitos nocivos em doenças já estabelecidas antes de se tornar obeso.

Contudo isso, um alto índice de mortalidade está relacionado com a obesidade, (250% em relação a pacientes não obesos).

Tratamento (revendo objetivos)

O tratamento da obesidade deve enfocar principalmente a melhora do bem-estar e da saúde do indivíduo, diminuindo os riscos de doenças na vida futura. Embora com freqüência a obtenção de resultados estéticos seja parte das expectativas do paciente, isto não é o objetivo principal do tratamento.
O conceito de melhora da saúde do paciente tem por base que a diminuição do peso é apenas a fase inicial do tratamento, sendo a manutenção do peso o objetivo principal.
A idéia de sucesso no tratamento da obesidade tem sido profundamente influenciada por evidências acumuladas de que, perdas modestas de peso podem produzir ganhos significantes para a saúde. Perdas da ordem de 5% a 10% do peso total podem melhorar a pressão arterial, as alterações das lipoproteínas, o número de apnéias durante o sono e o diabetes.
Além disso, a perda de peso deve ser considerada como um projeto de longo prazo, pesquisas e experiências, provaram que, as perdas rápidas de peso geralmente são de curta duração, sendo o peso perdido rapidamente recuperado, pois as perdas rápidas de peso são habitualmente resultantes de perdas acentuadas de água corporal.
De modo geral, a perda de peso não deve ser superior a 0,45 a 0,9Kg por semana. Isso minimiza a perda de massa isenta de gordura (massa muscular) e maximiza a perda de massa gorda acumulada no tecido adiposo.
Deve-se, portanto, redefinir e legitimar como sucesso num tratamento para obesidade reduzir a gravidade da obesidade em vez de normalizar o peso corporal. Desta forma, até mesmo a estabilização sem perda de peso representa um modesto sucesso, comparado com a história natural de ganho de peso progressivo. Deve-se encorajar objetivos atingíveis com expectativas realistas em vez de criticar falhas que levam a pensamentos negativos, evita-se com isso que pacientes obesos se desapontem com um tratamento que no seu entendimento não está funcionando, quando na verdade está.
Os objetivos não se aplicam somente ao peso em si, mas também a outros comportamentos desejáveis, como aumento de atividade física espontânea ou programada, que podem relacionar-se diretamente com a melhora da saúde e das condições mórbidas associadas ao peso elevado. Enfatizando os benefícios de perda de peso modesta e manutenção, os pacientes estarão mais propensos a enfrentar as mensagens apregoadas pela mídia e ao apelo comercial de produtos potencialmente danosos, que prometem perdas grandes e rápidas de peso.

Formas de Tratamento

Para os indivíduos, cuja obesidade não está relacionada com deficiências metabólicas, o princípio básico do tratamento se resume em provocar um déficit calórico. A quantidade de calorias ingeridas deverá ser inferior aos gastos, e para isso a principal meta para o obeso deve ser sua modificação de comportamento, combinando o aumento da atividade física com a redução da sua ingesta calórica.

Tratamento Dietético

A maior parte dos tratamentos dietéticos para obesidade envolve redução da ingestão de energia. Embora pareça simples aderir a um programa com estas características, na prática, a maior parte dos pacientes obesos apresenta muita dificuldade em longo prazo, sendo o acompanhamento de nutricionista ideal para minimizar estas dificuldades e para a elaboração de uma dieta saudável e eficiente.
A utilização de diários alimentares, em que o paciente registra a quantidade e qualidade de alimento ingerido é útil para avaliação dos hábitos alimentares do paciente, associando ao diário alimentar uma tabela de contagem de calorias, favorece-se o entendimento por parte dos pacientes do conteúdo energético e da composição dos alimentos.
Hábitos alimentares inadequados são, em geral, no mínimo parcialmente responsáveis pela maioria dos problemas de peso. Uma pessoa deve aprender a manter permanentemente as alterações dos hábitos alimentares, devendo ser incentivado o consumo de alimentos pobres em gordura, uma vez que alimentos gordurosos, além de serem mais calóricos, são mais propensos a depositarem-se como tecido adiposo, quando comparados a carboidratos e proteínas, além de alimentos gordurosos propiciarem um consumo excessivo de calorias. Da mesma forma, incentiva-se o consumo de alimentos ricos em fibras, como frutas e vegetais e carboidratos como pão, macarrão, arroz e feijão, mas evitando os excessos.

Os Benefícios da Atividade Física - O Tratamento pelo Movimento

A atividade física é recomendada como uma estratégia importante para prevenção da obesidade, assim como um método adjunto efetivo no tratamento e para posterior manutenção do peso ideal. Percebe-se que quase todo o obeso tem um nível de atividade física inferior a média, considerando-se também os hábitos sociais e ocupacionais.
Durante o exercício físico os ácidos graxos são liberados de seus locais de armazenamento para serem queimados como energia. Vários estudos sugerem que o hormônio de crescimento humano pode ser responsável por esse aumento da mobilização de ácidos graxos livres a partir dos triglicerídeos armazenados. As concentrações do hormônio do crescimento aumentam agudamente com o exercício e permanecem elevados por até várias horas do período de recuperação.
Outro beneficio importante é que a dieta hipocalórica provoca, isoladamente, perda de gordura, mas a massa isenta de gordura (massa muscular) também é perdida. Mas com o exercício físico seja isoladamente ou combinado com a dieta, à gordura é perdida, mas a massa isenta de gordura é mantida ou até aumentada, modificando a composição corporal significativamente.

Tipos de Exercício

Os exercícios contínuos, predominantemente aeróbicos, que utilizam grandes grupos musculares como caminhar, correr, nadar, andar de bicicleta auxiliam a promover a perda de peso e de massa adiposa, mas para isto estas atividades devem ser realizadas com intensidades adequadas e individualizadas para uma eficiente queima calórica tomando como base normalmente a freqüência cardíaca.
O treinamento de força como a musculação, auxilia no gasto calórico, mas principalmente aumenta a massa livre de gordura (músculo). Sendo assim importante para preservar a massa muscular que normalmente se perde durante uma dieta hipocalórica e aumentar a taxa metabólica de repouso, que representa de 60 a 75% das calorias totais gastas diariamente. Como a taxa metabólica de repouso está intimamente relacionada com a massa muscular, concluí-se que o uso do treinamento de força é útil para aumentar a massa magra, aumentando assim a taxa metabólica de repouso.
Quanto à freqüência de treinamento, sugere-se pelo menos três seções semanais para produzir mudanças consideráveis na composição corporal através do exercício.

Entretanto, aqueles com obesidade apresentam em geral, uma menor tolerância ao exercício, por causa de problemas respiratórios, ortopédicos, condicionamento físico muito precário e também pela maior massa corporal que deve ser movida durante o exercício.
Por isto, é importante o acompanhamento de um profissional de educação física para avaliar os vários fatores que devem ser considerados na escolha do tipo, intensidade e duração do exercício a ser prescrito a um obeso. O programa de atividade física deve ser supervisionado e personalizado de acordo com suas necessidades e com o grau de obesidade.

Efeito do Exercício Sobre a Regulação do Apetite

O exercício parece ser um supressor discreto do apetite, pelo menos nas primeiras horas que sucedem um treinamento físico intenso, nos quais os níveis elevados de catecolaminas (adrenalina e noradrenalina) resultantes poderiam reduzir o apetite.
Também a temporária elevação da temperatura corporal durante o esforço agiria sobre o controle do apetite. O exercício terá então a função de auxiliar no controle da dieta hipocalórica, facilitando a regulação do apetite.

Outros Tratamentos

Problemas emocionais ou psicológicos poderiam ser a causa da obesidade numa percentagem substancial de pessoas que a apresentam. Além disso, tais problemas podem surgir da condição em si. Algumas pessoas obesas podem necessitar de acompanhamento psicológico profissional para perder peso.

Medicamentos têm sido igualmente utilizados para auxiliar os pacientes a perderem peso, diminuindo o apetite ou aumentando a sua taxa metabólica de repouso.
Técnicas cirúrgicas também têm sido usadas no tratamento da obesidade extrema, mas somente como último recurso, quando os outros tratamentos falharem e o excesso de peso colocar a vida em risco.
Em todas as formas de tratamento da obesidade é importante lembrar que indivíduos respondem de formas diferentes a mesma intervenção.

Conclusão

Um estilo de vida sedentário tem sido associado a um maior risco de doenças como a obesidade. As conseqüências da obesidade são debilitantes e os custos de seus tratamentos são elevados.
A atividade física regular, como já descrito, atenua muito os riscos e sintomas de doenças associadas com a obesidade, indivíduos obesos e ativos apresentam menor morbidez e mortalidade do que indivíduos de peso considerado normal que são sedentários.
Por isso, o exercício físico deve ser reconhecido como um componente essencial de qualquer programa de redução e também para a manutenção do peso.